quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"Mais lembranças"

Sentia-me zonza, tonta, aquela pancada havia me jogado longe.Quando vi estava caída ali no asfalto, sem saber direito o que havia acontecido.
Olhei pelo meu corpo e não havia ferimentos, nem dor, talvez, porque o sangue ainda estivesse quente.Me sentia completamente desorientada.
Ao longe avistei uma luz branca se aproximando lentamente, parecia-se com um avião.Não estava conseguindo enxergar direito minhas vistas estavam embaçadas.Tentei me levantar, mas as pernas fraquejaram, era melhor que ficasse mais um tempo sentada até recobrar as forças novamente.
Na curva da estrada surgiu um caminhão, pensei que bom, enfim, alguém pra ajudar.Desta vez coloquei-me em pé apoiando no carro e acenei.O caminhão parou e um homem desceu.Respirei aliviada, afinal ninguém merece ficar naquele breu, sozinha, aquela hora da madrugada...
O tal homem passou por mim como se estivesse mais interessado no estado do veículo do que em mim.Olhei incrédula pra ele, como as pessoas podiam ser assim? me perguntava.Fiquei observando-o e vi quando ele fez o sinal da cruz.
-Mas porque é que ele fez o sinal da cruz? me perguntei imediatamente.Nesse instante fiquei gelada, vai ver tinha mais alguém comigo e com a pancada na cabeça me esqueci!
Assustada coloquei a mão na boca, não podia ser!
Um nó na garganta, um desespero se apossou de mim.Tudo aquilo só podia ser um sonho!
Me escorando ainda no carro, fui para o outro lado.Um calafrio percorreu-me a espinha, senti que literalmente, perdia o chão.
Eu simplesmente estava lá, toda estirada no asfalto sobre uma imensa poça de sangue!
-Não pode ser, exclamava.Como isso era possível se eu estava alí vivinha da silva!
O homem pegou o celular, de certo para pedir ajuda, óbvio.Me aproximei mais dele, mas ele parecia não me notar.Achei que ia desmaiar ante a pressão que estava sentindo no peito, quando olhei novamente para o céu e vi que aquela luz de antes, agora estava bem mais próxima de mim.
Definitivamente não era um avião, era como uma bola de luz.Parou a certa distância e pude notar uma pessoa caminhando em minha direção.Não conseguia raciocinar direito, estava confusa.
Era estranho havia muita luz envolta daquela pessoa, conforme se aproximava uma calma ia me invadindo.Com os olhos marejados de lágrimas vi um já senhor de cabelos grisalhos sorrindo pra mim.
Senti imenso alívio, havia algo de muito familiar naquele rosto que não sabia o quê exatamente.Estendeu-me a mão como para seguí-lo.
Tornei a olhar aquele dito corpo no asfalto, e senti um aperto no peito e milhões de perguntas se formando instantâneamente em minha mente.Talvez, aquele senhor pudesse me dar as respostas que tanto precisava, então, seria melhor que o acompanhasse mesmo.
Peguei em sua mão e no mesmo instante, senti uma imensa calma invadir minha alma.Era uma sensação tão boa que por um momento tudo foi sumindo e perdendo a importância, apenas aquele sentimento de paz existia.
Percebi que estávamos saindo do chão, mas isso também perdera a importância.Já ao longe, ouvia timidamente o som das sirenes, e superficialmente imaginava a correria das pessoas, dos bombeiros, enfim, mas o fato é que a cada segundo definitivamente tudo ia ficando cada vez mais distante e sem sentido.
Agora, não queria mais pensar em nada, apenas desfrutar a delícia daquela paz, daquele momento... o resto ao menos por enquanto não mais importava.

"lembranças"

Abri os olhos e vi o escuro.O zumbido de uma mosca chegando aos meus ouvidos.Dente cerrado, olhar estatalado, músculos dormentes.A escuridão como um manto me cobria.Onde estou?O que é isso?Estava presa numa caixa... seria num caixão?
A agonia se encerrava em meu peito, mas afinal o que é que estava acontecendo?
Foi, então, que de repente senti algo se mover em mim, fazia-me cócegas por todo o corpo.Mais um pouco... senti algo surgindo a toda velocidade de dentro de meu peito... um grito profundo ecoava por todo meu ser, ao perceber aqueles miseráveis e fétidos vermes avançarem sobre mim.Lançavam-me sobre meu corpo, despedaçavam-me aos pouquinhos.Por Deus, saíam de dentro de mim!O que faço agora?
Então, seguiram-se os minutos que mais pareciam horas, de um intenso clamor a Deus.Talvez, ele em sua infinita misericórdia voltasse seus olhos para mim naquele terrível momento.E eu que dizia nem acreditar em Deus, como é que agora podia clamar por ele?!Reconhecendo o tamanho de meu problema percebi que não havia outro jeito.
Quando tudo parecia perdido eis que ante aos meus olhos surgiu tão esplendorosa figura.A intensidade da luz que irradiava cegou-me por alguns instantes.Pensei: Deus?Mas notei que aquele ser possuía enormes asas, e sua face era de uma incrível beleza, cujos olhos eram os mais penetrantes que já havia visto na vida.Como era óbvio não demorei a perceber de que se tratava de um anjo.E afinal se ele estava ali era porque em algum lugar Deus realmente existia.

-Bem aventurada seja, pois Deus ouviu o teu clamor.Louvai-o para todo sempre porque desta perdição ele te salvou!

Fiquei inebriada com o êxtase daquela aparição.Continuava olhando-o quando, então, estendeu-me sua mão de luz.

-Venha que o céu te espera.

No mesmo instante pensei:
Mas como se estou encerrada aqui dentro...
Lendo meus pensamentos o anjo disse:

-Tenha fé, pois Deus já fez a sua parte.

Fechei os olhos e agradeci-o profundamente pela graça alcançada.Afinal, Deus verdadeiramente existia.Ao abrir os olhos novamente, eu já estava ao lado daquele anjo que me conduzia por entre as nuvens do céu... e como era belo o céu com seus jardins floridos... com o aroma fresco do campo... enfim, Deus existia!

"Simplesmente Margot"

Mulher dos tempos modernos.Praticamente desde que nascera já tinha a idéia fixa de um dia se tornar independente.Tivera uma infância comum a todas as outras crianças, com a única diferença de que ela não sonhava com príncipes encantados.As amiguinhas a olhavam meio torto sem entender as coisas de Margot, mas tudo bem, afinal assim com certeza sobrariam mais príncipes...

Com o tempo viera a adolescência, e aí as coisas não mudaram muito em seu modo de pensar.Em seus sonhos de juventude ela se imaginava uma pessoa importante, trabalhando pra uma grande companhia ganhando muito dinheiro e tendo uma vida confortável num luxuoso apartamento.
De certo que não podia ficar falando dessas coisas, as pessoas a achariam uma pessoa metida e orgulhosa demais, o que não era verdade, apenas sonhava com o melhor da vida.Por isso guardava seus sonhos no lugar mais profundo de seu coração. Enquanto isso, dedicava-se ao máximo em seus estudos.Quando das festinhas de final de ano da escola, alguns garotos timidamente se aproximavam na tentativa de tirá-la para dançar.Até que alguns eram bonitinhos, mas ainda aquela altura não tinha conhecido o amor, aliás pra dizer mesmo nem sequer acreditava que ele existia, então, inventava uma desculpa qualquer e continuava em seu canto.

Um pouco mais tarde comecara a frequentar a faculdade e obviamente os ditos "barzinhos".As noites se tornaram mais agradáveis e se divertia como nunca com suas atuais amigas.Recebia alguns galanteios dos rapazes e isso a fez perceber como era interessante o jogo do amor, se é que se pode chamar de amor.Então, deixava-se levar até certo ponto, depois como sempre, inventava alguma desculpa e partia pra outra aventura. Suas amigas se espantavam com esse comportamento, pois esse era um comportamento tipicamente masculino! Bem mas no final das contas todas acabavam rindo das peripécias de Margot.

Certo dia combinaram uma seção com uma cartomante.Queriam porque queriam saber como seria o futuro.No começo Margot refutara a idéia veementemente, mas de tanta insistência das amigas acabara aceitando o convite.No fundo no fundo ela temia um de seus piores fantasmas: um marido ou algo assim.A tal mulher falou de sua carreira brilhante, e que conseguiria realizar todos os seus sonhos.E aí o inevitável: havia um home em seu futuro! - Não pode ser!! exclamou com toda força.As amigas olharam desconfiadas pra ela, afinal toda mulher mais cedo ou mais tarde sonhava em encontrar o homem de suas vidas... mas Margot não.Pensaram que, talvez, seria Margot uma sapatão e nunca desconfiaram disso? Não, não podia ser. Percebendo o que se passava na cabeça delas, rapidamente corrigiu: - Gente eu só não quero me casar, ter marido, essas coisas.Quero ser independente!!
A cartomante concordara que esse podia ser seu sonho, mas afirmava que certamente um dia iria encontrá-lo e ponto final.Ao mesmo tempo que Margot ria daquela cena, uma imensa raiva crescia por dentro.Iria o destino traí-la dessa forma? Preferia acreditar que não, preferia acreditar que o futuro estava em suas mãos, e que destino definitivamente não tinha nada a ver. Seguiria em frente firme e forte como sempre, e que se lixasse as previsões daquela bruxa.

"Amor distante"

Poema: Amor distante

Um amor que não pertence a esse mundo
Um amor que nada deste mundo pode apagá-lo
Um amor que pertence ao céu
Um amor que a mão de um homem não alcança,
somente o coração alcança
Um amor que ignora o corpo
Um amor que consome a alma,
em apenas um instante de olhar
e que a tudo compensa
Um amor que a distância só faz aumentar
Um amor tão profundo e verdadeiro...
E mesmo em caminhos tão diferentes,
o amor se faz maior
E nos momentos em que os destinos se cruzam
Surge uma forte explosão de intensa luz
Os segundos de um momento
se transformam numa eternidade silenciosa e profunda
como se os olhos falassem a língua dos anjos
Como se turbilhões lavassem a alma
E como se os corações se amassem
a toda velocidade
E que ao invés de se consumir, ao contrário,
nos deixa extasiados,
na paz da loucura de um orgasmo espiritual.

(obs: E o amor puro como fonte inesgotável de inspiração...)

"Vida brasileira"

A vida é uma sucessão de erros e acertos,
de derrotas e conquistas,
é um sem fim de coisas incessantes,
que não se calam, que não se fingem
enfim, que expiram a cada instante,
de vez enquando,
mas fazer o quê, quando
não se sabe o que fazer?

É um tre-lê-lê,
é um auê de caraokê.
se viu, fingiu-se que não viu
se falou, fingiu-se que não falou.
É um bumbuzá,
é um saramandaiê.
Eita que já vou me deitar, no miar
no calar da noite fria de sabá.

É pra calar o vozerio desse povo vil
que num quer parar de trabalhar,
de cantarolar, de suar,
de surrupiar e rodopiar.

Eita que o dia amanhace
que o sol desfaz a lua,
que a vida continua,
num raiar ensolarado
em pequenas doses, goles, gulas e
gotas de suor,
puro autêntico,
transeunte, mal quisto,
porém, bem visto.

Eita que somo tudo é brasileiro,
cheio de ginga, de amor e compaixão,
pela música, pelo poeta e pela Nação"